Polêmica na Twittosfera policial
"BOCA DE SABÃO" REVELA COMO RECEBE DENÚNCIAS DE CORRUPÇÃO NA PM
Ele tem apenas 1.600 seguidores no microblog Twitter, mas suas palavras ecoam com força pelos bastidores da sociedade. No site de buscas Google, é mais procurado do que o Batalhão de Operações Especiais (Bope), famoso em todo o país depois do filme “Tropa de Elite”. Na verdade, ele é mais de uma pessoa. Há nove meses, quatro oficiais da Polícia Militar, com o apoio de outros dez colegas de corporação, se juntaram para formar o Boca de Sabão, perfil anônimo que se notabilizou por denunciar, pelo Twitter, casos de corrupção que inundam as vísceras da PM.
Recentemente, o trabalho do Boca de Sabão foi elogiado pelo presidente da Associação dos Ativos, Inativos e Pensionistas da Polícia Militar (Assinap), Miguel Cordeiro:
— Jamais apoiamos o anonimato, mas o Boca de Sabão tem que se servir dessa estratégia para não ser punido por um regulamento disciplinar arcaico. No meio militar, a liberdade de expressão ainda causa espanto.
Segundo um de seus integrantes, o Boca de Sabão não é um instrumento político nem de promoção de algum grupo.
— Estamos aqui para denunciar e fazer pressão para que o comando da PM melhore sua relação com a tropa, se interesse pela miséria de salário que os policiais recebem e fique sabendo o que os comandantes nomeados fazem quando têm o poder nas mãos.
Mas, afinal, por que Boca de Sabão? O nome, explica o twitteiro, é uma gíria que significa fofoqueiro, no jargão policial.
— Ou seja, a proposta é botar a boca no trombone sobre tudo que soubermos de errado — diz um dos integrantes do grupo.
As denúncias começaram a ser postadas no microblog em março de 2009, e logo chamaram a atenção da corporação e de quem se interessa pelo assunto.
— Na época, nosso foco eram os desmandos do coronel Antônio Carlos Suarez David, ex-chefe do Estado Maior da PM, que vivia em um imóvel da corporação e ainda recebia o auxílio-moradia — dispara o policial, que não mede palavras se o assunto é corrupção.
Confira o bate-papo sem censura com o
BOCA DE SABÃO
EXTRA: Por que vocês criaram o Boca de Sabão?
BOCA DE SABÃO: A corrupção na PM é bem peculiar. Tem a corrupção do policial contra o cidadão, nas ruas, aquele dinheiro que algum PM tira do viciado, da pessoa que comete infração de trânsito. E tem a corrupção do PM contra o próprio PM, dentro dos quartéis, normalmente, feita dos superiores contra os subordinados.
EXTRA: Como ocorre essa corrupção?
BOCA DE SABÃO: Em alguns batalhões, o policial precisa pagar para tirar férias, para não ser escalado em serviço extra, para obter autorização para ir ao hospital. Essa corrupção interna é maliciosa, difícil de ser combatida e ocorre pelas mãos de oficiais. Como a tropa iria se defender de seus superiores? Foi aqui que entramos. A corrupção “para dentro” é a origem de todo o sistema corrupto.
EXTRA: Quantas pessoas formam o Boca de Sabão?
BOCA DE SABÃO: São dez pessoas, mas apenas quatro possuem a senha. Fora desse núcleo, temos uma rede de colaboradores que não nos conhecem pessoalmente, mas se credenciaram como informantes. Precisamos deles para checar as informações que recebemos. Nós as conhecemos, mas eles nem imaginam quem somos.
EXTRA: De onde vocês acessam o Twitter?
BOCA DE SABÃO: Usamos redes públicas, ou seja, lan houses e laptops em redes wi-fi de shoppings.
EXTRA: O e-mail denunciasproboca@gmail.com recebe quantas mensagens por dia?
BOCA DE SABÃO: Cerca de 15, das quais aproveitamos três ou quatro.
EXTRA: Qual a unidade mais denunciada?
BOCA DE SABÃO: É o 2º BPM (Botafogo). A principal reclamação é o nosso prato principal: oficiais extorquindo praças. Há uma guerra interna nessa unidade, onde, recentemente, um oficial que apreendia máquinas caça-níqueis foi transferido para um setor burocrático.
EXTRA: Já receberam alguma denúncia sobre alguém do alto escalão da corporação ou da Secretaria de Segurança?
BOCA DE SABÃO: Não. Acreditamos que a cúpula seja equivocada, não corrupta.
CASOS DE POLÍCIA