Uma faxineira de 45 anos, que mora no Morro da Providência, voltou a viver um antigo pesadelo nos últimos dias. Mãe de um dos três jovens que foram entregues em junho de 2008 por militares do Exército a traficantes do Morro da Mineira, facção rival à comunidade, ela sentiu que poderia perder o outro filho numa operação feita por policiais militares da UPP. X., de 17 anos, disse ter sido torturado a socos, tapas, pontapés e golpes de cassetete. A versão foi confirmada por moradores, que dizem ter presenciado as agressões.
O episódio ocorreu na quarta-feira à tarde, na entrada da comunidade, após uma troca de tiros entre policiais e traficantes. X. e outros três menores foram detidos com Wagner Luiz Fagundes, preso por tráfico e associação para o tráfico. Um dos adolescentes foi atingido por um tiro na nádega e está internado no Hospital Souza Aguiar. Os policiais apreenderam um revólver e pequena quantidade de drogas na operação. A ocorrência foi registrada na 5ª DP (Mem de Sá).
A mãe de X. diz que o filho nunca se envolveu com o tráfico e é um aluno estudioso, numa escola municipal perto da comunidade.
— O meu filho saiu de casa com R$ 20 no bolso para cortar os cabelos. Aí, disse que ouviu barulho de tiros e saiu correndo. Foi quando a polícia pegou ele. Fiquei com medo de perder um outro filho do mesmo jeito. O meu filho nunca se envolveu com nada de errado e foi vítima dessa covardia — desabafou a mãe.
O caso está sendo acompanhado pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos, pelo Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura, da Alerj e pela ONG Projeto Legal.
— O adolescente estava com sangramento na cabeça, tinha um ferimento na perna e levou chutes nas costas — disse o advogado Antônio Pedro Soares, da ONG, que esteve com o menor na delegacia.
Na próxima segunda-feira, os menores serão ouvidos em audiência no Juizado da Infância e da Juventude, num processo que corre em segredo de Justiça.
PM está apurando a denúncia
Em nota, a PM disse que os policiais chegaram uma denúncia sobre a presença de traficantes dentro de uma creche quando os cinco suspeitos tentaram fugir. Segundo a PM, um deles atirou e os policiais revidaram.
A corporação informa, ainda, que está apurando a denúncia. O comandante Glauco Schorcht já identificou os policiais envolvidos na ocorrência, que estão sendo ouvidos sobre as circunstâncias da ocorrência. “Os autos serão encaminhados para a Corregedoria da Polícia Militar, que já instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM)”, informou.
EXTRA
RELEMBRE O CASO DOS 3 ANJINHOS:
David Wilson Florenço da Silva, conhecido como "Deivão", foi preso em flagrante, em junho de 2004, por porte ilegal de munição e corrupção de menores. Também seria segurança do traficante Carlinhos Fininho, gerente da boca de fumo do Morro da Providência, favela dominada pela facção criminosa Comando Vermelho (CV).
Marcos Paulo Rodrigues Campos, era primo do traficante Carlinhos Fininho e provavelmente prestava serviços como segurança da boca-de-fumo. A mãe adotiva de Marcos, Maria de Fátima Barbosa, foi presa em flagrante delito pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, no dia 18 de dezembro de 2004, em companhia de três cidadãos, por estarem de posse de 04 (quatro) fuzis, sendo três de calibre 7.62mm e um de calibre .223, além de cartuchos de munição para os calibres supra citados.
Wellington Gonzaga da Costa Ferreira, também conhecido como "Negão" possui registro policial por ser acusado de associação para o tráfico, em maio de 2006. Seria também segurança do traficante Carlinhos Fininho. Lílian Gonzaga da Costa de Souza, mãe de Wellington, já foi presa por posse de cocaína, em 2001.