quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Cabo eleitoral é executado!

Homens bem armados, usando capuzes e casacos de frio, executaram a tiros o vidraceiro Anderson Faria Fernandes de Bezerra, de 36 anos, cabo eleitoral do candidato a vereador Júlio Brasil (PTB).
Ele fazia propaganda política, distribuindo panfletos e colando cartazes nas paredes da Estrada Carvalho Ramos e nas ruas Assis e Riacho Sêco, às 21h de terça-feira, juntamente com um grupo de correligionários, quando foi avisado por dois homens que estavam em uma motocicleta, de que “a área tinha dono” e que seria bom ele sair dalí.
O vidraceiro não deu importância e continuou seu trabalho. Logo depois o grupo foi para uma tendinha pertencente a um policial militar que está emprestado a uma delegacia de polícia. Enquanto o vidraceiro tomava um refrigerante, o PM chegou dirigindo uma viatura da Polícia Civil, parou à porta do estabelecimento, entrou e saiu quatro minutos depois.
Após a saida da viatura policial, surgiu um Tempra, azul, de placa não anotada, com cinco homens, que parou em uma esquina próxima. Dele saltaram três homens.
O cabo eleitoral ainda tomava um refrigerante e conversava com o pessoal do grupo que também fazia a panfletagem. Eles se dirigiram para onde estava o grupo e os abordou. Fizeram uma abordagem, como se fossem policiais, revistando e identificando a todos. Anderson e um outro colega - cujo nome não foi revelado - foram separados e levados para a esquina da Rua Assis com Riacho Sêco.
Enquanto dois interrogavam o vidraceiro, o terceiro criminoso perguntava ao amigo de onde ele conhecia Anderson, se sabia onde ele morava e outras perguntas. O rapaz, em depoimento prestado na 35ª DP (Campo Grande) disse que em meio ao interrogatório ouviu tiros e logo depois, os três homens foram embora e ele encontrou o vidraceiro morto.
Os policiais da 35ª DP confirmaram que as ruas onde estava sendo feita a panfletagem e a colação de cartazes, que fica na localidade conhecida como Santa Rosa, é área de ação da Liga da Justiça, a milícia supostamente comandada pelos irmaõs Natalino Guimarães (deputado estadual) e Jerônimo Guimarães (vereador) que estão presos em Bangu 8. Ao longo das ruas, existem muitos cartazes de Carminho Jerônimo.
Candidato lamenta
Delegado da Polícia Federal e tenente da Reserva do Corpo de Fuzileiros Navais, o candidato a vereador Júlio Brasil, 39 anos, estava arrasado com a morte de seu cabo eleitoral. “Ele não era apenas meu cabo eleitoral. Era meu amigo pessoal há mais de 20 anos. Fomos criados juntos no local onde ele foi assassinado. Ele era evangélico, assim com eu sou. Sua morte foi um atentado a democracia, um atentado à liberdade. Nunca esperava acontecer isso alí, pois tanto eu como ele conhecíamos todos naquele local. Espero que a polícia investigue bem o caso e chegue logo aos criminosos”, afirmou.
O candidato disse que não pode atribuir a nenhum grupo a autoria da morte do cabo eleitoral, mas revelou que desde que começou a campanha eleitoral vem tendo problemas em várias áreas da Zona Oeste. “Coloco os cartazes, os galhardetes, tudo, em determinados locais e, durante as madrugadas, eles são arrancados, destruidos. Torno a coloca-los nos mesmo lugares e acontece a mesma coisa. Isso não é uma disputa decente”, reclamou, sem querer incriminar o vereador Jorge Babú (licenciado do PT) ou os irmãos Natalino e Jerônimo, em cujas áreas vem encontrado dificuldades em fazer campanha política.
O delegado Marcus Neves, da 35ª DP, disse que serão abertos dois inquéritos. Um criminal, para apurar a morte do vidraceiro, e outro pela Polícia Federal, para apurar crime eleitoral. Júlio Brasil vai prestar depoimento na delegacia de Campo Grande e, também, na Polícia Federal. O corpo do cabo eleitoral foi sepultado às 16h de ontem, no Cemitério de Santa Cruz, na presença de amigos, vizinhos, colegas de trabalho. Júlio Brasil também estava presente. Anderson era solteiro. Revoltados com o brutal assassinato e temerosos de uma represália dos mandantes do crime, os parentes e amigos do vidraceiro não permitiram que jornalistas assistissem ao enterro.
Também temeroso de sofrer uma represália por parte de outros candidatos, Júlio Brasil passou a andar com quatro seguranças. “São meus amigos, todos policiais militares que me protegem 24 horas por dia”, disse.