Ao meio-dia, uma coluna de pelo menos 14 tanques avançava pela avenida Chang'an (Rua da Paz Longa, em chinês). No sentido oposto, um homem, vestindo calças pretas e camisa branca, carregando duas sacolas, uma em cada mão, pára em frente ao comboio e faz um movimento com o braço direito sinalizando para que interrompam o avanço. O primeiro tanque freia a cerca de 3 metros do homem. O segundo e o terceiro que aparecem na imagem param logo atrás.
Alguns segundos se passam até que o tanque que liderava a coluna tenta uma manobra para seguir o seu curso: acelera e vira para a direita para tentar desviar do homem. No entanto, o manifestante dá cinco passos para o mesmo lado, se posiciona novamente em frente aos veículos e faz um novo sinal para que não prossigam. O tanque vira para o outro lado e tenta novo avanço, impedido da mesma forma pelo homem. Após algumas novas investidas sem sucesso, o veículo militar parece desistir.
"Foi então que o tanque desligou os motores. Pareceu, para mim, que em seguida todos os tanques desligaram os motores, pois o local ficou muito silencioso", disse a jornalista Jan Wong, que estava entre a equipe de repórteres ocidentais que acompanhou o fato, das janelas do Hotel Beijing, a cerca de 800 do local do incidente.
O manifestante, então, segura as duas sacolas com a mão esquerda e usa a direita como apoio para subir no tanque. Ele projeta o corpo em direção a uma escotilha no topo do carro, na provável tentativa de fazer contato com os soldados no interior do veículo. Em seguida, salta de volta para a avenida e se posiciona ao lado do tanque.
O veículo liga o motor, solta fumaça e tenta avançar, mas é novamente impedido pelo manifestante que corre para se colocar na frente do carro. Ele faz novos sinais para que recuem e é outra vez respeitado. Neste momento, do sexto andar do hotel da imprensa, o fotógrafo Jeff Widener, da AP, registra a célebre imagem que entraria para a história como um símbolo de luta por liberdade.
Do sentido contrário aos tanques, surge um ciclista vestido com roupas claras que pedala em direção ao manifestante. Eles trocam algumas palavras. Em seguida, outros dois homens vestidos de azul marinho retiram o manifestante do local e os tanques finalmente avançam.
Oficialmente, não se sabe qual o foi o destino do "rebelde desconhecido". Quanto mais famosa se tornou a imagem, mais teorias surgiram sobre o que teria acontecido ao manifestante. Alguns analistas defendem que os homens de azul marinho eram agentes secretos, pois utilizaram uma técnica policial para retirar o manifestante do local: agarraram o braço direito do homem, para evitar resistência. Neste caso, o "rebelde desconhecido" provavelmente teria sido morto, ao lado dos outros milhares de estudantes executados durante os conflitos que ocorreram nos dias anteriores.
"É absolutamente extraordinário. Você pode olhar para este homem como um ser bravo, mas ele provavelmente não era. Ele provavelmente era uma pessoa comum que estava muito decepcionada com o que havia presenciado", disse o professor Timothy Brook, da Universidade de British Columbia, ao documentário The Tank Man, produzido pela PBS.
O tablóide inglês Sunday Express chegou a identificar o homem como sendo um estudante de 19 anos, chamado Wang Weilin. Ele teria sido acusado pela polícia chinesa de causar distúrbios políticos. No entanto, a veracidade da informação nunca foi confirmada. Outras versões conflitantes dizem que ele teria sido executado 14 dias após o incidente; morto por pelotão de fuzilamento meses depois do protesto; ou até que ele ainda vive e está escondido no interior da China ou em Taiwan.
"Ele não precisa ter um nome. Ele 'falou' para as massas, para todos que tiveram de se calar durante os massacres. Ele era todos eles. O que ele fez, todos entenderam. Todos ouviram. O fato será lembrado mesmo após esse regime virar história", disse Robin Munro, diretor da ONG China Labour Bulletin, para a PBS.
Em 1998, a Time incluiu o "rebelde desconhecido" na lista das "100 pessoas mais importantes do século". Uma variação da imagem, registrada por Charlie Cole, da Newsweek, foi eleita pela Life como uma das "100 fotografias que mudaram o mundo", em 2003. Atualmente, a foto é reconhecida como um ícone na luta por liberdade e paz no mundo inteiro.
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LEIAM O BLOG GRUPO PCERJ - MARÇO 12.2012
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