quinta-feira, 31 de julho de 2008

'Não sou o candidato das grandes empreiteiras', diz Paulo Ramos

Entrevista com o candidato PAULO RAMOS ( PDT) à prefeitura do Rio de Janeiro
Jornal do Brasil


RIO - Otimismo, seu nome é Paulo Ramos. Apesar de obter minguados pontos nas pesquisas que apontam para onde vai o voto dos cariocas, o candidato do PDT acredita que pode virar o jogo ("a campanha só está começando"). Para ilustrar sua convicção, cita uma frase de Leonel Brizola, fundador do partido: "Temos que confiar na força do povo".
Como o velho líder, Paulo Ramos também tem uma pinimba com as Organizações Globo. Por causa dela, não acredita nos números de intenção de votos que os órgãos de imprensa da empresa lhe atribuem. Também enxerga neles a intenção de levar Crivella e Eduardo Paes ao segundo turno.
Ramos é oficial da reserva da PM e advogado. Já passou por dois mandatos de deputado federal e três de estadual. Como o alvo de sua administração, escolheu o sistema de transporte. Promete arquivar o projeto do trem bala e não dar moleza para a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio (Fetranspor). Acha que a entidade acumulou poder na mesma proporção em que promoveu o sucateamento da malha ferroviária, que pretende reativar. Ao ser perguntado de onde virá o dinheiro, desconversa: "Nenhum problema se vai resolver como apagar e acender a luz".
Paulo Ramos é o segundo entrevistado da série de sabatinas do JB com os candidatos. Acompanhado de auxiliares, respondeu a Tales Faria, José Aparecido Miguel, Rodrigo de Almeida, André Balocco, Fernanda Thurler e Pedro Vieira.


Jornal do Brasil: O ex-governador Leonel Brizola tinha uma relação conflituosa com as organizações Globo. O senhor acha que, em relação à sua campanha, isso foi superado?
Paulo Ramos: Não foi superado e nem acredito que será superado. Eu tenho uma relação de atividades que desenvolvi, porque investiguei a Fundação Roberto Marinho, investiguei o programa Criança Esperança, entrei na CPI da Anac, ganhei na primeira instância um empréstimo feito na Caixa Econômica para construir o Projac, provei remessas ilegais de dólares para o exterior. E ainda está rolando uma iniciativa minha sobre aqueles dois terrenos ao lado da Asa Delta de São Conrado, que, coincidentemente, do lado, moram o Cesar Maia e o Marcello Alencar. Aquele terreno pertencia à Fundação Abrigo Cristo Redentor, uma fundação federal, e o terreno foi vendido sem a autorização do Legislativo. O programa Criança Esperança, eles não prestam conta. Os artistas ganham cachê, dizem que é patrocínio. Eu já tenho idade suficiente para conhecer a realidade. Eu brinco quando converso com outros candidatos: "Todo candidato tem percentual elevado de idiota". Candidato acredita nas coisas mais incríveis e desacredita nas mais óbvias. Mas é claro que eu não posso de forma alguma ter, numa pesquisa, o mesmo percentual do meu amigo do PCB. Não há hipóteses. Primeiro porque o PDT é um partido de muita expressão. Segundo, que a minha atuação ao longo dos vinte anos de mandato é uma atuação que tem tido algum ou outro destaque político. Lá na Assembléia Legislativa eu faço comparação. Com todas as dificuldades, eu estou entre os quatro com mais repercussão na mídia. Então, como eu posso imaginar que aquela pesquisa seja verdadeira? Eles estão fazendo da seguinte forma, e a Jandira vai pagar um preço... tem uma frase, que eu não sei toda, que diz assim: "Se a democracia se constitui no único sistema que o mecanismo de acesso ao poder depende dos partidos políticos, aqueles que compactuam com qualquer ato que represente a negação da democracia, mais cedo ou mais tarde vão pagar um preço", e eu estou me referindo a Jandira, porque eles estão tentando criar um mecanismo para levar pro segundo turno Eduardo Paes e Crivella. Isso está ficando óbvio.


Jornal do Brasil: Por que? Por que eles acham que o Eduardo Paes ganha?
Paulo Ramos: Não, não é porque eles acham que o Paes ganha. É que a Jandira não é tão apreciada por eles como o Eduardo Paes. Somente isso.


Jornal do Brasil: Eles quem?
Paulo Ramos: A Fetranspor, a Firjan, as grandes empreiteiras. Quer dizer que vão fazer o Trem Bala, que vai custar R$ 20 bilhões, e não cuidar do transporte de massa na região metropolitana? Isso por que? Não há razão. Então o que acontece, eles vão mandando, vão estabelecendo o seguinte: quais são os candidatos que podem ganhar e os candidatos que estão condenados a perder. Eles estão afunilando.


Jornal do Brasil: Na sua visão, para eles quem pode ganhar?
Paulo Ramos: Eduardo Paes, Crivella, Jandira, Solange e Gabeira. Gabeira já abandonaram, praticamente já. Tem o jornal O Globo e o jornal O Dia. A Igreja Universal já tem participação no jornal O Dia, porque a Igreja Universal é um partido político. Assim como o sistema Globo se transformou num partido político na eleição de 89, quando elegeu o Collor. A sustentação à ditadura já era um alinhamento, mas no momento da redemocratização em que poderia haver uma certa agilidade na democracia, a Globo interferiu no processo com a força que acumulou nos meios de comunicação. Claramente. E não foi só a edição do debate. A edição do debate foi o último ato. O Collor trocou cartas com o Roberto Marinho, dizendo que ele foi convidado pelo Roberto Marinho para concorrer à Presidência da República. Então o Eduardo Paes pretende ser um candidato dos católicos.


Jornal do Brasil: Na sua visão, quais são os candidatos que eles acham que têm que perder?
Paulo Ramos: Principalmente o do PDT. O Molon, ele é deputado e eu convivo com ele lá, mas levou uma pernada do Sérgio Cabral que não foi habilidade política do Sérgio Cabral, aquilo foi uma imoralidade, um absurdo, uma demonstração evidente de falta de caráter. Como é que ele apóia o Molon antes da convenção do PT e depois rompe? E a nossa Justiça Eleitoral? É uma imoralidade. Não haveria necessidade de ninguém impugnar a candidatura do Eduardo Paes. Como é que sai Diário Oficial com data retroativa? Isso é um escândalo por si só. A Justiça Eleitoral, se quisesse se fazer minimamente respeitada, não poderia aceitar o registro da candidatura. Mas por que aceita? Na última eleição municipal, o Tribunal Regional Eleitoral anulou a eleição em Campos, condenou Arnaldo Vianna, condenou o Carlos Alberto Campista e absolveu o Garotinho e a Rosinha, num voto de Minerva, numa votação que não foi empate. O que acontece é que a composição dos poderes vai se dando com vícios de origem. Os concursos são fraudados. No momento de formar o colegiado do Tribunal de Justiça, as coisas são meio tortuosas. A filha se tornou desembargadora, quando ele se ausentou e quando voltou tinham escolhido a filha dele e ele se emocionou, chorou. Pra cima de quem isso? Aí está a Monica del Piero, que era procuradora de justiça e desembargadora, mas estava no esquema com o Álvaro Lins e o Garotinho. A questão das ONGs surgindo. Essa CPI de ONGs na Assembléia. Mandei para o Ministério Público com todas as provas, mas eles são tão imorais que continuaram fazendo a mesma coisa, só que trocando o nome da ONG. Assim como o poder Legislativo é viciado na origem pelo uso da máquina administrativa, o poder econômico, os demais poderes também.


Jornal do Brasil: Deputado, com todas essas coisas contrárias, como o senhor acha que conseguirá chegar ao segundo turno?
Paulo Ramos: Em primeiro lugar eu quero agradecer ao Jornal do Brasil pela entrevista, porque eu ouvi na sede de o Globo que o jornal era uma empresa privada e portanto poderia fazer o que quisesse. Aí eu perguntei: "Não tem nenhum compromisso social? A liberdade de imprensa também não gera alguns deveres? Vocês se apropriaram da liberdade de imprensa para cuidar dos interesses de uma empresa privada. Se é dentro dessa perspectiva, eu não tenho o que te dizer". A última entrevista que o Brizola deu foi para o Jornal do Brasil, e eu estou lembrando do Brizola e digo o seguinte: eles tentam determinar em cada partido quem deve ser o candidato, substituindo os partidos políticos. Depois eles tentam dizer quem pode ganhar, substituindo o povo. Eu tenho andado muito, e é muito difícil. Imaginar que no primeiro dia da campanha eu fiquei quatro horas e meia em Padre Miguel, isso porque sou de Realengo, conhecia muita gente, então fiquei ali. O Eduardo Paes ficou 20 minutos, bateu três fotografias e foi embora. No dia seguinte saiu no jornal. A eleição majoritária, mais do que qualquer outra, depende da democratização da informação. Se não é democratizado, há um dirigismo. Agora, se aqueles que são profissionais e controladores de empresas de comunicação fazem o discurso sobre a liberdade de imprensa, um dos fundamentos da democracia, mas se apropriam dessa liberdade em função de seus próprios interesses, estão contrariando o próprio preceito democrático. E isto vem acontecendo. Nós fomos a Campo Grande e fizemos um belíssimo ato com a presença do Ministro do Trabalho e nenhuma linha. Nenhuma. É um fato diferente vir um ministro.


Jornal do Brasil: Mas o senhor acha que terá condições de superar isso?
Paulo Ramos: O Brizola dizia: "Temos que confiar na força do povo". Eu me sinto inclinado a fazer um documento denunciando esse golpismo. Se você dissesse assim: "O Paulo Ramos é um insignificante". Dos candidatos, eu sou o único constituinte. Foram dois mandatos de deputado federal, três de estadual, o PDT é um partido forte, elegeu três vezes um governador, duas vezes um prefeito.


Jornal do Brasil: Existe nacionalmente uma aliança PDT, PCdoB e PSB. Não seria razoável o senhor apoiar a Jandira?
Paulo Ramos: Eleição é partidária. A Jandira subiu num sapato alto, manifestando um entendimento de que qualquer coligação seria em torno do nome dela. Por que não discutir previamente qual seria a melhor alternativa para enfrentamento do modelo? Por que ela imaginar o PCdoB, que ao longo desses anos mostrou agir muito mais pela conveniência de formação do partido do que de acordo com coerência? Por exemplo, em 1986 eles teriam apoiado o Brizola, e não o Moreira Franco. Então o PCdoB é um partido que luta para a formação de quadros, independentemente do resultado da eleição. Eu queria discutir previamente, sem determinar quem seria o candidato. Vamos fazer a coligação desde que o PDT se disponha a dar o vice. Vai começar a descer do sapato alto agora, já está começando a fase. Por que na próxima pesquisa manipulada, eu digo com conhecimento, porque os órgãos de pesquisa recebem dinheiro de quem contratou a pesquisa. Eu já vi dar dinheiro.


Jornal do Brasil: Mas quem contrata paga...
Paulo Ramos: Não é assim. Não é quem contrata paga, somente. Quem contrata paga estimulando um certo resultado. Isso existe, na minha avaliação, ainda mais num país como o nosso, em que o grau de consciência política é muito pequeno. Imoralidade na eleição é a pesquisa.


Jornal do Brasil: Mas existem órgãos de pesquisa que não trabalham para candidato nenhum... O Datafolha, por exemplo.
Paulo Ramos: Eu sou forçado a reconhecer que o jornal Folha de São Paulo já representou um outro papel que não representa hoje. E talvez por questão de sobrevivência o Jornal do Brasil não se curvou. Ou o JB não enfrenta muito mais dificuldade do que uma Folha de São Paulo? Talvez porque não tenha embarcado em certas negociatas. Eu só sei que a Folha de São Paulo não cumpre hoje o mesmo papel.


Jornal do Brasil: O senhor acha que existe uma conspiração contra sua candidatura?
Paulo Ramos: Não é contra mim...


Jornal do Brasil: É contra um modelo?
Paulo Ramos: Para manter como alternativa somente aqueles que representam a negação desse modelo, pra restringir a verdadeira esquerda. Eu brinco e digo assim: verifica quem contribuiu pra campanha dos outros nas eleições passadas.


Jornal do Brasil: Mas numa eleição municipal ainda funciona este negócio de esquerda e direita?
Paulo Ramos: Funciona. Não de uma maneira tão perceptível, mas funciona. Tanto assim que a Jandira tem que se apresentar como a candidata que deveria unir a esquerda. Então o que acontece, eu me comparo com os demais candidatos. Nenhum dos outros vivenciou tanto o Rio quanto eu. Não é viver na cidade, é vivenciar os problemas e as conquistas. Em Realengo estudei em escola pública, depois morei no Cachambi. Lá em Bangu, onde morei depois que casei, pegava ônibus para ir à cidade. Um ônibus que não parava no ponto, que não era ponto inicial. Os campinhos de futebol não tinham chuveirinhos, vestiário pra tomar banho. Hoje eu passo nos campinhos me dá até pena. Então eu vivenciei as coisas proporcionadas pelo poder aquisitivo, porque eu vou ao teatro, vou ao cinema e não vou agora, já vou há muito tempo. Quando percorro os subúrbios, vejo que houve uma regressão, um atraso. Eu sou de Realengo, estudei numa escola primária em Realengo, ginásio numa escola em Santa Cruz e o científico em Bangu. Tenho ilustres companheiros de turma como Carlos Alberto Parreira, que fez o científico comigo. Conheço as dificuldades de acesso à saúde, de acesso aos hospitais. Numa fase de menor pressão a situação estabilizou. Nasci no conjunto de IAPI de Realengo, o primeiro conjunto habitacional da Era Vargas. Aliás tem uma concepção de que o maior fator de inclusão imediata é a habitação. A educação é um processo, mas a habitação é um fato de inclusão. Por isso que não há projeto habitacional, a construção da habitação não é uma perspectiva da casa própria, mas o direito à moradia.


Jornal do Brasil: O JB falou na terça-feira sobre as sete promessas não cumpridas do Cesar Maia. Quais são as suas?
Paulo Ramos: Eu tenho compromissos que considero realizáveis. Em todas as áreas. Vou pegar uma área, a de transporte. A força política que a Fetranspor acumulou, corrompendo governantes antes da chegada ao poder, teve como consequência a desativação de ramais ferroviários. Você vai numa estação como a Leopoldina, onde há um terminal ferroviário fechado... Você chega ali e vê a quantidade de trilhos desembocando nas plataformas, a diminuição da quantidade de trens.


Jornal do Brasil: O senhor vai reativá-los?
Paulo Ramos: Claro. Em vez de Trem Bala, eu vou reativar. Não tem solução para transporte que seja exclusiva do município do Rio. Como é que a gente tem um milagre como a Baía de Guanabara e o transporte aquaviária não é implementado? Você ter que vir de São Gonçalo pela ponte Rio-Niterói. Por que não tem? A Ilha do Governador viveria melhor, a Avenida Brasil seria desafogada, a Linha Vermelha também e as pessoas levariam menos tempo de casa para o trabalho. Mas qual a razão de não ter? Não tem porque quem controla o transporte são os controladores do transporte rodoviário e eles foram acumulando força progressivamente. Me lembro quando surgiram as antigas lotações como o transporte alternativo de hoje. Então está sendo mostrada uma situação absurda. A Supervia retira trilhos desses ramais para não fazer manutenção de outros lugares. Eu visito e não é de agora, pela candidatura. Tenho visitado ao longo dos mandatos, com o Sindicato dos Ferroviários, fazendo as denúncias. Então, transporte de massa é uma coisa fundamental e elementar. Se os governantes se deixam subordinar aos interesses de um modal... O Estado fez uma aliança com o município. O Detro é que está fiscalizando todo o transporte do município e estão buscando o transporte alternativo, criando barreiras. Esta semana vou ao Ministério Público. O pessoal do transporte alternativo fez barreiras fiscalizando os ônibus que não tinham passado pela vistoria. São vários ônibus. Ônibus com placas clonadas de automóveis com proprietários. Ônibus de empresas! E a questão da educação? Nosso companheiro Jorge Vieira foi assassinado e logo depois chegamos lá e o que vimos? Garotos em cima das motos com a fisionomia de 14 ou 15 anos com metralhadoras. Por que? Não estão mais na escola, não têm alternativa e pela idade não podem trabalhar. O que é que vão fazer da vida? Não acho razoável que qualquer candidato, mesmo os que foram contrários na época, não defendam a educação integral. Não é só a educação em horário integral, porque a educação para ser integral tem que ser em horário integral. De 7h às 18h a criança tem que estar na escola. Com atendimento à saúde, com atividades recreativas, atividades culturais, uma grade curricular.
Mas isso tem um custo...


Jornal do Brasil: O senhor tem um levantamento do necessário para tornar isso possível?
Paulo Ramos: Nenhum problema você vai resolver como apagar e acender a luz. Tem que ser um processo. Se o programa dos Cieps tivesse sido apoiado, não tivesse sido interrompido, com certeza mais que absoluta, hoje, estaríamos vivendo uma outra realidade no Rio. Não apenas em relação à segurança pública, mas em relação a padrões de convivência. Por que interrompeu? Por que utilizar somente 25%? Por que a Constituição manda? Por que não usar mais? Então é necessário racionalizar e fazer um projeto e no projeto, objetivos e datas você vai alcançando. Uma coisa que não é feita: nós temos a União, o Estado e o município realizando inúmeros programas sociais, sem que se comuniquem. Será que não é possível pegar a execução orçamentária de cada um e colocar no computador pra ver se há superposição?


Jornal do Brasil: Mas o Estado já está mais ou menos afinado com a União nos programas sociais...
Paulo Ramos: Mas não com os municípios. Existe uma simulação. Existe o discurso e existe a vida. Na vida, eles não estão. Será que só agora foi descoberto esse escândalo das ONGs? Pegando o governo estadual e o governo federal? São tantos programas para menores abandonados, são tantos programas para deficientes físicos, são tantos programas para idosos... Eu como prefeito quero ter a relação de todos e ver como os utilizam.

Jornal do Brasil: Sobre a educação. O que é necessário?
Paulo Ramos: Você não pode ter a criança ficando na escola três horas ou quatro horas, tem que progressivamente aumentar a carga horária. Tem que manter a criança ocupada.

Jornal do Brasil: Isso significa aumento no quadro dos professores?
Paulo Ramos: Brizola chegou a colocar mais de 40% do orçamento na educação. Eu tenho marcado minha atuação em serviço do servidor e do serviço público. Não pode se debater a enfatização do serviço público na medida em que o poder público foi oferecendo menos serviços. Dezesseis por cento dos alunos hoje são matriculados nas escolas públicas, 84% nas particulares. A mesma coisa é a rede de saúde. De uma determinada forma é a bi-tributação. Então tem que recuperar as funções públicas progressivamente. Quando se compara a economia do Rio com a economia de outros países, que têm a mesma massa crítica, a arrecadação é pequena. Mas é pequena porque? Por causa dos conchavos na renúncia fiscal. E são muitos os conchavos. A nossa legislação fiscal e tributária promove a sonegação. E aí você vai tendo menos recurso. A nossa realidade tributária não corresponde à econômica.

Jornal do Brasil: O que o senhor pretende fazer? Uma auditoria, por exemplo?
Paulo Ramos: É propor mudanças. Porque o prefeito do Rio não pode ficar voltado para o umbigo, achando que ele tem que ficar atrás do laptop. Não. Prefeito tem que interferir nas políticas públicas, na responsabilidade do Estado, na responsabilidade da União. A prefeitura assumiu a gestão dos hospitais de emergência federais. Por uma questão de epidemia da dengue, em que todos eram responsáveis, a União, num ato de império, interveio, passou a gestão do SUS, contra a lei, para o Estado. Montou barracas e cadê as barracas?

Jornal do Brasil: Nesse caso o Lula foi tirano com o Cesar Maia?
Paulo Ramos: Não tem o espetáculo do crescimento? Tem outros tipos de espetáculos também. Na verdade as decisões políticas devem sempre estar submetidas a um interesse público.

Jornal do Brasil: Mas não foi o caso?
Paulo Ramos: Não foi. Eles deveriam, responsavelmente, sentar em conjunto e propor a solução. Com a gravidade do problema, não resolveu problema nenhum. A população ficou sem saber quem era o culpado, mas é óbvio que nesse caso específico a parte mais frágil era a prefeitura. Isso não quer dizer que o Cesar Maia não tenha uma parcela grande de responsabilidade.
Jornal do Brasil: Mas na sua avaliação o maior culpado foi o governo federal...
Paulo Ramos: Veja uma fase anterior quando demitiram os guardas de endemia, os nossos mata-mosquitos. Isto vem lá de trás.
Jornal do Brasil: Como o senhor avalia a gestão do prefeito Cesar Maia ao longo desses 16 anos de poder?
Paulo Ramos: Ninguém pode ter dúvida de que Cesar Maia foi importante para cidade, até um determinado ponto. Tanto assim que foi el eito e elegeu o sucessor. Depois ele foi eleito de novo. Ele alcançou credibilidade. Na minha avaliação ele cansou de ser prefeito nesse último mandato. Se desinteressou de ser prefeito da cidade. Diante sempre dos mesmos problemas e desafios da cidade, ele cansou. Houve o Pan-americano e não houve nenhum investimento para aumentar a possibilidade da prática esportiva. Como é que nós vamos descobrir as vocações sem que as crianças e os adolescentes sejam praticantes? Eu quero poder fazer uma vinculação entre a educação e os clubes sócio-recreativos.
Jornal do Brasil: Mas e as vilas olímpicas?
Paulo Ramos: Nem é vila e muito menos é olímpica. Chamar aquilo de vila requer um esforço muito grande. Primeiro porque fica fechado no final de semana. É um equipamento caro e pouco utilizado, isso não quer dizer que vai se jogar fora.

Jornal do Brasil: O que o senhor faria com elas?
Paulo Ramos: Mantenho e abro nos finais de semana. Dinamizo. Mas os clubes sócio-recreativos devem ter sua capacidade recuperada e ampliada. Os clubes de subúrbio, a população empobreceu, mas eles estão lá. Tem clube que tem estádio e parque aquático olímpico. Como é que gastam dez vezes mais que o previsto e não investem um tostão nos clubes sócio-recreativos, onde a garotada vai a pé? Aí faz a Cidade da Criança em Santa Cruz, mas para ir lá tem de ir de carro, levar lanche ... Mas você pode ir aos clubes através de uma parceria público privada. Agora eles defendem a parceria público privada longe dos interesses sociais. Por que não nos clubes para ter programas a crianças e adolescentes, jovens e idosos? É a prática esportiva, não na visão única do medalhista, mas sim na visão da saúde. Eu aliás vou dizer aqui por diletantismo: disse no COB uma frase que conheço que está num livro do Santiagho Dantas chamado Palavras de um Professor, que reúne discursos dele. Eu disse ao COB: vocês têm de usar esta frase na propaganda do Pan. É a seguinte: "Saber perder, ser o primeiro a denunciar a própria falta, renunciar a uma vitória obtida sem o rigor das normas do jogo, admirar o adversário, ser seu amigo em todas as competições, ver no antagonismo ainda uma forma... são sentimentos da prática desportiva. Isto é o sentido do esporte, fugir deste sentido é ficar preso única e exclusivamente a determinado topo de êxito. O êxito não é a felicidade coletiva, o êxito é a conquista individual.