segunda-feira, 7 de julho de 2008

A culpa é de quem?

Assinap culpa Estado do Rio por mortes de inocentes
A Assinap (Associação dos Ativos e Inativos da Policia Militar e Corpo de Bombeiros) divulgou nota, na tarde desta segunda-feira, em que responsabiliza o Estado do Rio pelas mortes de Daniel Duque, de 18 anos, e do menino João Roberto Amorim Soares, de 3 anos. Daniel foi morto por um policial militar na semana passada, na saída de uma boate na Zona Sul do Rio. João morreu na madrugada desta segunda-feira, após o carro da sua família ser metralhado por engano pela polícia.
Veja a nota na íntegra:
Governador deveria saber como é o Curso de Formação de Soldados Em menos de 20 dias, assistimos aparvalhados dois episódios trágicos nos quais policiais do Estado do Rio de janeiro vitimam inocentes. O primeiro fato se refere ao jovem Daniel Duque. Agora, uma ação policial desastrada no bairro da Tijuca deixa uma criança de três anos com morte cerebral.
Há anos, estamos alertando o governo e o próprio comando da PMERJ sobre o péssimo treinamento que é dado àqueles homens que um dia se tornarão policiais com direito a porte de arma.
Como formar um policial completo em apenas três meses de treinamento? Pois é esse o tempo que leva para o homem comum se tornar soldado e "defender" a sociedade. Um treinamento feito à base de gritos, sem acompanhamento psicológico, sem alimentação adequada, sem estudo e sem simulação de situação de combate.
O Curso de Formação de Soldados (CFS) só é dado para no máximo 200 homens, independente do contingente que passou no concurso, pois o CEFAP (Centro de Formação e Aperfeiçomento Policial) não tem capacidade de absorver um contingente maior. No último concurso público, por exemplo, entraram dois mil homens. Os 1800 homens restantes foram distribuídos nos quartéis para lá serem "formados", como freqüentemente é feito. Quartéis esses que não tem infra-estrutura nem pessoal capacitado para dar cursos para o seu próprio efetivo, muito menos para novatos.
Os cursos são ministrados, na maioria das vezes, por praças designados pelos oficiais, pois estes – os oficiais – evitam compartilhar do convívio com os praças. Só que o Estado investe o dinheiro da população em cursos no exterior para os oficiais que não se preocupam em repassar o conhecimento que tiveram para aqueles que estão na ponta.
Como somos uma associação representativa de classe, recebemos diariamente policiais destroçados psicologicamente, seja pela exaustiva e desumana carga horária, seja por humilhações impingidas dentro dos batalhões por superiores hierárquicos, seja pelo desespero do homem em não poder sustentar sua família por conta dos salários de fome que recebem. Como se sabe, o Estado do Rio de Janeiro é o líder do ranking de pior salário para sua polícia militar, mesmo sendo o segundo estado em arrecadação. E é este mesmo homem sem treinamento, deprimido, desorientado, muitas vezes traumatizado e sem apoio, que anda armado nas ruas com a chancela do Estado. A Polícia Militar do Estado do Rio de janeiro vive de aparências, está falida e contaminada pela corrupção de boa parte de seus integrantes. A Policia Militar do estado precisa de gestores públicos, e não mais de patentes que se locupletam pelas vaidades.
O governador, em vez de bravatas ou de culpar policiais isoladamente ou realizar viagens para países do primeiro mundo, deveria ver bem de perto como nasce o policial militar do estado que governa, acompanhando o ciclo de treinamento e formação policial, o conhecido Curso de Formação de Soldado (CFS), realizado no CEFAP.Quem sabe tendo este conhecimento, ele se envergonhe e queira criar um Curso de Formação digno, consciente e de qualidade, para que a Polícia Militar do Rio um dia deixe de ser uma das que mais perde efetivo e também mais mata inocentes dentro do Brasil.
Miguel CordeiroPresidente da Assinap
fonte Jornal O DIA


Vale lembrar que:

O comandante-geral da Polícia Militar, Gilson Pitta, cancelou todos os cursos e estágios de aperfeiçoamento oferecidos pela corporação a oficiais e praças em 2008. A decisão foi motivada "pela imperiosa necessidade de atender à demanda operacional da Corporação", segundo publicado no Boletim Interno número 040, de 01 de abril. Entre os cursos cancelados estão: Intensivo de Tiro de Combate; Ações Táticas em Moto-patrulhamento; Ações Táticas; Policiamento Ambiental; e Investigação e Perícia Criminal. Ao todo foram 13 cursos cancelados, deixando sem ensino e instrução cerca de 452 policiais.