domingo, 29 de junho de 2014

Delegado diz que 30% dos bandidos presos por crimes de homicídio em Niterói são do Rio

 Delegado Wellington Vieira: favela de Itaboraí virou “entreposto” da droga que vai para a Região dos Lagos
Cerca de 30% de um total de 116 presos por homicídio em Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, nos seis primeiros meses deste ano, são bandidos do Rio. A informação é do delegado titular da Delegacia de Homicídios (DH), Wellington Vieira, e, segundo ele, confirma o envolvimento de traficantes da capital em crimes cometidos na região. O policial, porém, não usa o termo migração de bandidos.
— Não encaro isso como migração, mas como uma mobilidade dos bandidos, que atravessam a Ponte Rio-Niterói, e cometem crimes. Alguns ficam na cidade; outros voltam para o Rio — afirma o Vieira, que desde janeiro comanda a nova DH, instalada no Centro.

70% SÃO EGRESSOS DO SISTEMA PENAL
Vieira ressalta que os presos são autores ou coautores de homicídios e que a maioria dos crimes está ligada ao tráfico de drogas. O delegado conta também que 70% dos detidos são egressos do sistema penitenciário.
Um dos inquéritos conduzidos pelo delegado revela que o traficante Marcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, mesmo preso em Catanduvas (PR), controla a venda de drogas no Complexo do Alemão, foi um dos mandantes do assassinato do sargento da PM Joilson da Silva Gomes, de 40 anos, na Estrada Velha de Maricá. O crime ocorreu em fevereiro, e a vítima levou mais de 50 tiros, horas depois de participar de uma incursão que acabou com um baile funk realizado por bandidos do Morro do Caramujo, na Zona Norte. A comunidade, considerada pela polícia como a de maior poderio bélico do tráfico em Niterói, também está sob o domínio de Marcinho VP.
— Identificamos a participação de bandidos do Complexo do Alemão e do Caramujo na execução do policial militar. A ordem partiu do Marcinho VP, que é o “dono” do morro. Ele determinou a execução não só do Joilson, mas do irmão deste, o PM Jonas, que comandou a operação, mas saiu ileso. A ordem recebida pelo grupo que representa a liderança da facção que comanda o Complexo do Alemão e por bandidos de Niterói, como Luiz Claudio Gomes, o Pão com Ovo, que comanda o tráfico de drogas nas favelas Vila Ipiranga e Nova Brasília, e Rodrigo da Silva Rodrigues, o Tinenem, que cumpre ordens de Marcinho, e é o chefe do tráfico do Caramujo — explicou o delegado.
A Delegacia de Homicídios — que desde que foi reformulada em janeiro, conta com 150 policiais civis e dez delegados; antes funcionava na Rua São João com um delegado e 20 agentes —investiga ainda o envolvimento do traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P, — que está preso e é chefe do tráfico em 11 favelas do Complexo da Maré — em homicídios cometidos em Niterói. Menor P tem ligação com um bandido da comunidade conhecido como Pimpolho, acusado de ter assassinado um traficante, em maio. A morte aconteceu durante uma guerra pela venda de drogas no morro, que levou à tortura duas mulheres e colocou em lados opostos traficantes de drogas ligados a Wallace Torres, o Anão (chefe do tráfico, mas preso em março do ano passado), e ao Menor P.
O delegado aponta ainda o envolvimento de traficantes do Rio com a favela da Reta Velha, em Itaboraí, controlada pela mesma facção que comanda o Complexo do Alemão. Vieira afirma que a comunidade se tornou uma espécie entreposto para a distribuição de drogas na Região dos Lagos e tem um faturamento estimado em cerca de R$ 2 milhões mensais.
— Essa droga vem do Rio para Itaboraí, para depois ser distribuída em cidades como Cabo Frio e Búzios — afirma Vieira.

'PERCENTUAL É SIGNIFICATIVO'
Para Paulo Storani, ex-capitão do Bope e antropólogo da UFF, o índice de 30% de bandidos do Rio presos em Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, é significativo e confirma uma tendência de migração dos criminosos de áreas pacificadas do Rio.
— Esse número tem significado em qualquer dado estatístico. Desde que começou a pacificação, eu já alertava para essa possibilidade de migração do crime. Muitos dos bandidos que agiam na Zona Sul do Rio, cometiam crimes em áreas próximas e retornavam para suas favelas de origem. Então, após a chegada das UPPs, eles passaram a sair para regiões atrativas. E Niterói é uma delas. É uma cidade com economia forte, população com alto poder aquisitivo e um efetivo policial em queda ao longos dos últimos anos, no 12º BPM (Niterói) — avalia o oficial. O GLOBO

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