quarta-feira, 15 de abril de 2009

LEITURA DE HOJE - O crime organizado avança. Caminhamos para uma unificação.

O crime vem se especializando, recrudescendo e se tornando progressivamente mais ousado. A unificação do crime numa grande organização é cada vez mais evidente.

O Estado em contrapartida tem se mostrado inerte ou até incompetente e conivente. Sucessivos governos fizeram alianças com o crime organizado e permitiram que organizações criminosas infiltrassem seu pessoal nos três poderes, em todas as esferas do governo. Hoje temos vereadores, deputados, juizes, prefeitos, autoridades policiais e membros do primeiro escalão da administração pública financiados pelo crime ou mancomunados em verdadeiras sociedades, colocando o Estado a serviço do crime.

Essas alianças mostram sua face mais ousada e despudorada com o jogo do bicho que tem casas de apostas e pontos ostensivos em praticamente todas as ruas de movimento do Rio de Janeiro, no carnaval e mesmo em crimes envolvendo policiais, bombeiros e políticos articulados em milícias.
O exemplo mais simbólico da derrocada do Estado foi à quadrilha montada e chefiada pelo ex-deputado e ex-chefe da polícia do Rio de Janeiro, que em pleno exercício da função criou uma rede do crime administrada por delegados da ativa e baseada em delegacias. Há suspeitas não provadas que seu superior imediato e o então governador Anthony Garotinho tenham participado do esquema. Se não participaram, o mínimo que se pode dizer é que tenham sido incompetentes, coniventes ou negligentes.
Outro exemplo é o clã do ex-vereador Jerônimo Guimarães (PMDB).
Tanto Álvaro Lins como Jerônimo Guimarães, mesmo presos, continuam influentes no submundo e no comando do crime organizado.

Antes de dar continuidade a leitura, sugerimos assistir a uma gravação de cenas reais tomadas em 23/03/09. Segundo a polícia, traficantes da Rocinha tentaram invadir a Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. O tiroteio teria começado no sábado à noite e tomou ruas de um dos bairros mais nobres e glamourosos do Rio. O link para o vídeo é: http://www.youtube.com/watch?v=PjOpkSg1pBs&NR=1

Àqueles que assistiram ao filme e imaginam ser esta uma cena isolada, lamentamos informar que esse estado de guerra está se tornando uma rotina na cidade do Rio de Janeiro.
Após quase dois dias de intensa fuzilaria promovida por bandidos de facções rivais fortemente armados e policiais num dos pontos mais nobres da zona Sul, as armas calaram. Apesar de algumas prisões e apreensões de armas efetuadas pela polícia, o cessar fogo não se deu pela intervenção da polícia e sim pelo fato da facção invasora ter recuado.
Essa é a situação numa das cidades mais importantes do país.
O próprio secretário de Estado de Segurança Pública, José Mariano Beltrame deixou escapar uma declaração infeliz que é a mais pura realidade.
“…o tráfico vai existir sempre onde existir viciado. O que não vamos admitir é essa territorialidade que o tráfico tem, essa exclusividade do território. …”
Ou seja, a autoridade policial máxima admite que a polícia não tem capacidade de efetivamente combater o crime e apenas intervém para apartar, quando duas facções rivais entram em confronto.

É evidente que estamos a um passo de nos tornarmos um Estado do crime.
O surgimento de milícias foi um avanço rápido na evolução do crime.

As milícias que atuam no Rio de Janeiro são comandadas e integradas por policiais militares, civis, bombeiros e agentes penitenciários. São profissionais formados e treinados pelo Estado para combater o crime. Quando passam a atuar do lado oposto representam um risco desmesurado para a sociedade.
São “agentes da lei” que sabem montar núcleos de inteligência e contra-inteligência, têm profundo conhecimento de armas e táticas de combate, conhecem toda estrutura de segurança pública e são extremamente bem relacionados dentro de suas unidades de origem. Na prática compram a amizade e cumplicidade de seus pares com gratificações, favores e outras benesses cujos recursos têm origem em operações ilícitas.
O movimento de articulação de milícias ainda está numa fase inicial. As milícias inicialmente eram formadas por 10 a 20 homens mas seu poder se torna cada vez mais evidente, pois esses grupos conseguiram em pouco tempo eliminar ou expulsar tradicionais facões do crime organizado de seus redutos.
Aquilo que o Estado com todo seu aparato policial alega não conseguir fazer há décadas, tem sido feito por grupos de 10 a 20 homens. Tal constatação mostra de forma inequívoca que o Estado faliu ou está corrompido até as entranhas.
O “modus operandi” de milícias é elementar e está em todas as cartilhas da polícia e das Forças Armadas. Primeiro é feito um estudo geográfico, depois uma operação de inteligência que visa identificar líderes, seus hábitos e suas defesas. Por último é planejada uma invasão que de forma bem executada tem resultado numa rápida ocupação do terreno com morte ou fuga de integrantes da facção local.
O conflito atual que tem se dado entre facções do crime tradicionais e milícias, representa o confronto de bandidos ignorantes organizados em estruturas relativamente rudimentares, com organizações integradas por profissionais de nível técnico e superior treinadas para combater o crime.
Se nesse momento a cidade não está completamente entregue a bandidos, não é mérito da polícia nem da política de segurança pública.
A razão de não estarmos sob julgo do crime organizado é que este ainda está em conflito por território. Nesse processo Mas já existem provas de tentativas de unificação de facções para divisão de áreas de influência de forma negociada.
Em breve as milícias serão predominantes e daí à unificação do crime será mera questão de negociação entre amigos e companheiros de farda.
Essa unificação será dolorosa. Se hoje o aparato policial não consegue combater o crime e apenas entre em operação para apartar conflitos que se tornaram guerras urbanas, o que será de nós quando facões e milícias já unificadas concentrarem seus esforços contra a cidade?
Seremos reféns incondicionais.
Essa realidade é visível e já há provas que esse é o futuro inexorável se o Estado não implantar uma política de Segurança Pública consistente.
A tática do confronto é um teatro que se mostra ineficaz em todas as frentes. Seu resultado tem sido um número inaceitável de vítimas inocentes e o avanço do crime organizado que cada vez mais se infiltra no Estado e diversifica suas atividades.
As estatísticas do crime mostram uma evolução crescente num rítimo inaceitável. Enquanto o governo festeja pequenas variações de algumas modalidades de crimes como um resultado de sua política ridícula, o crime continua se organizando.
Estado precisa de uma política coordenada em todas as esferas de forma a combater o crime em sua origem e nas múltiplas frentes.
A origem do crime é social e tem ligação direta com uma política de educação. O atual sistema de educação é uma farsa que visa apenas conceder diplomas. Não forma cidadãos nem cumpre seu papel de abrir um espectro de oportunidades que gerem reais esperanças de um futuro digno conquistado pelo trabalho honesto.
Outro aspecto que tem relação direta com o crime organizado é a ocupação do solo. A ocupação caótica com favelas brotando como erva daninha forma todo um ambiente propício a instalação, defesa e proliferação do crime organizado.

Favelas são terras sem leis, onde o Estado não se pode fazer presente fisicamente, legalmente ou moralmente. É nesse ambiente que o crime encontra terra fértil para substituir o Estado negligente ou omisso oferecendo às comunidades migalhas em troca de conivência e acolhida. Com isso o crime organizado mantém com as comunidades relação promíscua transformando-as em defesa e celeiro de recrutas para suas fileiras.

Por último, o Estado carece de uma estrutura de inteligência condizente com a magnitude do caos ao qual estamos submetidos e uma depuração de todo aparelho policial.
Uma Política de Segurança Pública que não leve em conta esses aspectos será mero teatro que nos conduzira ao Estado do crime que nos reserva o trágico papel de cidadãos reféns e atores de cenas tão deprimentes como essas mostradas no trecho de filme anteriormente mencionado.

Esse artigo é praticamente uma continuação dos artigos:
“19/10/07 - Rio: Milícia expulsa tráfico da Favela da Metral”.
“03/09/08 - Vitória do crime e falência do Estado”
“19/09/08 - Crime no Rio de Janeiro de 1991 a 2008. Nada a festejar!”


http://ofca.com.br/artigos/2009/04/01/010409-o-crime-organizado-avanca-caminhamos-para-uma-unificacao-2/

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