sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Especialistas avaliam operação de choque de ordem pública no Rio como 'marqueteira'

Desde a última segunda-feira, a Prefeitura do Rio vem realizando diversas operações de choque de ordem pública na capital fluminense. De acordo com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), as ações têm como objetivo reprimir e combater a desordem urbana e a ilegalidade na cidade. Para alguns especialistas em planejamento urbano, as medidas que vêm sendo tomadas devem ser avaliadas criteriosamente. Segundo eles, as ações são necessárias para que se restabeleça a ordem pública, mas a forma como vêm sendo conduzida é “marqueteira”.

“Eu não sei se há realmente um projeto de construção da ordem na cidade do Rio de Janeiro ou se essas são medidas de marketing”, declarou José Augusto Rodrigues, diretor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Para Rodrigues, essa política de governo adotada por Eduardo Paes é uma forma de marcar o início de uma nova gestão que, sem dúvida, será comparada com a anterior, de Cesar Maia (DEM). “Tem uma política por trás muito nítida que pretende inventar uma nova era, ou seja, um novo Rio que se ergue das cinzas”, analisou.

O último mandato de Cesar Maia, principalmente, foi marcado por brigas e falta de políticas cooperadas entre o governo estadual e a prefeitura. Segundo o cientista social, o fato de Eduardo Paes ser do mesmo partido do governador Sérgio Cabral e de ter sido apoiado por ele durante a campanha eleitoral dá indícios de que as políticas de ordem urbana serão mais eficazes na atual gestão municipal.
“Todas as ações de ordem pública tomadas pela prefeitura nesses últimos dias contaram com o apoio de órgãos estaduais, como a Polícia Militar. Isso mostra para o povo que há uma integração entre a Prefeitura do Rio e o Governo do Estado”.

Mesmo avaliando as ações, de certa maneira, como “marqueteiras”, José Augusto Rodrigues ressalta que elas são cabíveis. Segundo o especialista, se a nova prefeitura quer de fato combater a desordem urbana, ela terá que estipular parâmetros rígidos para que o objetivo seja alcançado.
“A reconstrução provável da ordem pública exigirá medidas drásticas”, disse Rodrigues. “Se você quer restabelecer a ordem vai ter que ferir o interesse de muitos. Os interesses que você vai ferir pressupõem estratégias de sobrevivência da população de baixa renda. No momento em que há cooperação entre a prefeitura e o governo estadual, podem ser desenvolvidas medidas compensatórias”.
Até ontem, segundo o balanço da Secretaria Especial de Ordem Pública, os fiscais da Coordenadoria de Licenciamento e Fiscalização (CLF) da Prefeitura do Rio haviam recolhido 189 moradores de rua, multado 897 veículos, rebocado outros 189 automóveis e apreendido mais de 100 toneladas de entulhos e produtos diversos. No bairro do Flamengo, zona sul da cidade, os agentes encontraram um galpão que era utilizado como estoque por ambulantes irregulares. No local foram apreendidos alimentos perecíveis, cadeiras, mesas, freezers, carrocinhas e espreguiçadeiras de praia.

“Efetivamente existe uma rede clandestina de contrabando de alimentos e mercadorias. Sem uma ação rígida de repressão a esses depósitos não vai haver ordem”, afirmou o cientista social. “É alarmante o número de ambulantes que surgem vendendo a mesma marca de guarda chuva ou capa de chuva assim que um temporal atinge a cidade”.
Para Rodrigues, o argumento usado por muitos de que é melhor que os ambulantes “trabalhem honestamente” do que cometam crimes pelas ruas não é convincente. Segundo o especialista, dessa forma os ambulantes “não estão ganhando a vida”.
“Eles estão contribuindo para um sistema clandestino que foi se montando nos últimos anos. Um sistema que não paga os direitos dos trabalhadores e que explora a força de trabalho dessas pessoas”, argumentou.
Mudanças
Para o cientista social Dario Souza, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), especialista em sociologia urbana, as ações de ordem pública na capital fluminense criam uma grande expectativa na população de que a segurança se restabeleça. No entanto, de acordo com ele, as mudanças na cidade não podem partir somente do governo. Segundo Souza, é preciso que a população também mude a mentalidade e evite atitudes como dar esmolas e comprar produtos piratas.
“Essa ambiguidade é uma cultura do brasileiro. Ao mesmo tempo em que pede ordem pública, ele contribui para a ilegalidade”, analisou. “O grande desafio que a nova gestão terá de enfrentar será como tratar a questão da informalidade. As pessoas se sentem incomodadas com o camelô atrapalhando a movimentação nas calçadas, mas não deixam de comprar um programa pirata de computador com eles”.

Assim como José Augusto Rodrigues, Dario Souza enxerga um cunho “marqueteiro” nas operações de combate à desordem urbana. Para ele, há uma necessidade política na nova gestão municipal de marcar uma nova administração que se contraponha à anterior. O especialista, entretanto, acha válida a tentativa de melhora contato que ela que seja criteriosa. Souza lembra que a desordem pública tem motivos variados e, por isso, a nova política deve possuir um objetivo claro para que não se perca.

“Essas renovações têm que ser consistentes e criteriosas”, disse o cientista social. “Uma política que se preza deve ter estipulado qual é a ordem mínima a ser atingida. Quais são as metas a serem alcançadas”, finalizou.

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2009/01/08/especialistas+avaliam+operacao+de+choque+de+ordem+publica+no+rio+como+marketeira+3241880.html

Um comentário:

COTURNO CARIOCA disse...

CERCEAMENTO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS PELO GOVERNO
"Caros Srs
Sou Major de Polícia Militar do Rio de Janeiro e tenho sofrido não poucos problemas em razão de meu engajamento em mobilizações cívicas em busca de condições menos indignas de prestação de serviço à população por parte dos bombeiros e policiais militares de meu estado natal e do exercício de direitos que acredito haverem sido consagrados a todos os meus patrícios, independentemente de opção religiosa, sexual, política ou mesmo laborativa, pela Constituição do Brasil.
Faz mais de dois anos que tenho um blog pessoal (www.wanderbymedeiros.blogspot.com), no qual insisto em expor o que penso sobre várias questões, inclusive, sobre indícios de corrupção no meio policial, sobre a falta de preparo do governador Sérgio Cabral para o cargo que acupa e sobre a desastrosa 'política de segurança pública' implementada em sua gestão.
Como pode ser verificado nos links do próprio blog (barra da direita), minha conduta já rendeu três punições disciplinares (as primeiras após mais de dezenove anos de carreira) e um primeiro processo na Justiça Castrense (crítica indevida - art 166 do Código Penal Militar, evidentemente não recepcionado, in casu, pela Constituição Federal de 1988).Recentemente, fui surpreendido com novo ato de meus algozes. O Boletim Reservado da Polícia Militar do RJ n.º 01, de 06Jan08, estampou (pág. 12) novo indiciamento em razão do art 166 do CPM (crítica indevida), por haver postado em meu blog 'comentário desrespeitoso à autoridade máxima do Estado do RJ', ao declarar que o governador está despreparado para o exercício do cargo que ocupa e por 'tecer comentários desfavoráveis à política de segurança pública' implantada por seu Secretário de Segurança, 'criticando publicamente resolução de governo, amoldando-se em prática prevista no Código Penal Militar.'.
Eu sei que pode parecer Surreal, mas tal fato está acontecendo no RJ e, em breve, devo ter minha liberdade de locomoção cerceada pelo Comando da PM (administrativamente) em face da imputação supra, sem prejuízo da inauguração de mais um custoso processo penal militar.Gostaria de solicitar auxílio para que a questão seja alçada às instâncias competentes dos organismos internacionais de direitos humanos, pois meu direito elementar à liberdade de expressão (objeto da Carta Magna do Brasil e da Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, ratificada por meu país em 1992) está sendo alvo de flagrante lesão e, mesmo assim, eu não vou deixar, em hipótese alguma, de continuar a manifestar o que penso, de sorte que não posso prever até que ponto poderão chegar meus algozes.Além do mais, os resultados da política de segurança implementada no RJ não parecem demonstrar que estou errado!
Wanderby Braga de Medeiros


Cidadão brasileiro e militar de polícia no RJ" (texto encaminhado em 10/01/09).

http://www.wanderbymedeiros.blogspot.com/